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Espantoso seria que não houvesse desejo reiterado de refletir sobre a Cultura Digital entre familiares, educadores e mesmo os alunos adolescentes do CSD. Esse é um tema permanente em nossas reuniões internas e recorrente nos encontros com familiares. Alguns desses familiares levantaram a temática no início deste ano e, desde então, ela tem presença na pauta dos Conselhos de Escola.

O acelerado desenvolvimento das ferramentas informáticas, as tecnologias que possibilitam o acesso remoto em tempo real e a articulação das redes digitais (cuja breve história tem menos de três décadas) introduziram mudanças subjetivas de relevo no ambiente contemporâneo. Destacam-se as alterações na percepção do tempo, na memória, na aprendizagem, na lógica comum, na ética, nos deslocamentos orientados por aplicativos, nas relações com o trabalho... Enfim, um verdadeiro tsunami civilizatório se pôs em curso sem previsão de acomodação de seus efeitos, muito ao contrário.

A inquietação manifesta correntemente com esse estado de coisas tende a estar circunscrita, ao menos entre familiares de crianças, à busca de orientações objetivas sobre como melhor regrar o contato dos menores com tal tecnologia. É compreensível tal pragmatismo, porém, a reflexão que iniciamos objetiva abrir a abordagem para os múltiplos e complexos desdobramentos dessa história.

Escolhemos uma primeira chave para entrar nessa temática: aquela que enfoca a infância nas interações com os ambientes digitais a partir do excesso de consumo desses recursos.

Portanto, não se trata de julgar a tecnologia digital. Ela pode ser benéfica ou nociva a depender da forma como é utilizada e representada. Como produto a ser consumido, interessa à economia de mercado representá-la sempre como novidade e encarnação do progresso e do futuro. Como tal, para manter-se no topo de nossos hábitos de consumo, precisam ser freneticamente excitantes. Fato é que o uso das ferramentas consumidas engendra outros tantos incitadores de consumo desenfreado (de informações e notícias verdadeiras ou não; de queixas alheias, pertinentes ou não; de produtos que nos chegam filtrados para um suposto perfil nosso que é deduzível por robôs, queiramos ou não; de erotismos apropriados ou não a nossa idade ou moral; de promessas para todo tipo de problemas, tenhamos eles ou não, etc). Talvez tenhamos de nos perguntar: precisamos ou desejamos esse consumismo? Ele pode nos intoxicar? E quando se trata da intoxicação digital da infância?

Para refletir sobre isso, realizamos uma sessão de conversas sobre o tema que teve como ponto de partida a gravação de um Café Filosófico, organizado pela CPFL e protagonizado pela psicanalista e professora de teoria psicanalítica, Julieta Jerusalinsky.

O programa Intoxicações eletrônicas na primeira infância, módulo Pílulas e Palavras, originalmente transmitido pela TV Cultura é acessível neste link.

Os participantes da roda de conversa pré-assistiram à gravação do programa para preparar os diálogos reflexivos. André Deak, pai de Cora e Lúcia, professor de Comunicação na ESPM, Juliana Pádua Medeiros, professora do CSD e doutoranda na FFLCH/USP e Gabriel Ferreira de Bovi, nosso aluno do Ensino Médio, foram convidados a promoverem provocações frente às posições de Jerusalinsky e ampliarem os debates.

Ainda que não tenha sido intencional, a composição da mesa de debatedores acabou por ter representantes de gerações distintas e foi oportunidade para que também as percepções geracionais se tornassem conhecidas, contribuindo para compor o mosaico diverso que enriqueceu a reflexão dos presentes.

As inquietações prosseguiram. Lígia Ximenes, mãe ali presente, dedicou-se a produzir um relato sobre a experiência da roda de conversa e ainda contribuiu com um artigo em que apresenta publicações com posicionamento de ex-funcionários da Google que resolveram tornar públicas as estratégias usadas pela empresa para capturar informações pessoais e traçar perfis que facilitam a indução ao consumo dos seus usuários. Cliquem nos hiperlinks e boa leitura.

Silvio Barini Pinto